
"Sentimos por fim que essa inesgotável fantasia se fatiga, se esgota numa perpétua tensão, porque amadurecemos e superamos os nossos ideais antigos, os quais se desfazem em pó e se desmoronam, e, se não existe outra vida, é preciso construí-la mesmo com essas ruínas. E, no entanto, é algo diferente o que a alma solicita e quer! É, pois, em vão que o sonhador procura entre as cinzas dos seus velhos devaneios pelo menos qualquer cintilação para lhe soprar em cima e aquecer com um fogo novo o seu coração arrefecido e nele ressuscitar tudo o que outrora era tão agradável, tudo o que lhe sensibilizava a alma, tudo o que lhe fazia palpitar o sangue, tudo o que lhe inundava de lágrimas os olhos e iludia de maneira tão magnífica! Sabe, Nastenka, ao que cheguei? Sabe que me vejo obrigado a celebrar o aniversário dos meus sentimentos, o aniversário daquilo que dantes me era tão caro e que, na realidade nunca existiu - porque esse aniversário se celebra sempre em memória dos mesmo tolos devaneios - e, em última análise, esses próprios tolos devaneios não existem, porque não há possibilidade de os extrair da vida: até os sonhos nascem da vida, não é verdade?"
(F. Dostoievski, em Noites Brancas)
2 comentários:
Larissa, adoro Dostoievski, com sua narrativa detalhada, sua riqueza poética e seu enredo denso e enérgico como a vida real.
Que suas palavras são capazes de nos representar, eu sei, mas o que será que as palavras da própria Larissa diriam ?
Fica bem !
Adorei a frase final;
beijo, moça;
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